sábado, 22 de novembro de 2014

Portugal, País de Poetas

         
         
         
            Do sentimento trágico da vida


           Não há revolta no homem                 Rebeldia é que põe
que se revolta calçado.                      na nossa mão um punhal
O que nele se revolta                         para vibrar naquela morte
é apenas um bocado                         que nos mata devagar.
que dentro fica agarrado
à tábua da teoria.                               E só depois de informado
                                      só depois de esclarecido
Aquilo que nele mente                       rebelde nu e deitado
e parte em filosofia                             ironia de saber
é porventura a semente                     o que só então se sabe
do fruto que nele nasce                     e não se pode contar.
e a sede não lhe alivia.

Revolta é ter-se nascido
sem descobrir o sentido
do que nos há-de matar.


           NATÁLIA CORREIA (1923-1993)  Apontamentos (5.ª parte)

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